NOTÍCIAS » ACUSADO EM ESQUEMA DE DESVIO DE RECURSOS, EX-SENADOR CLÉSIO ANDRADE SE APRESENTA EM MG

Quatro mulheres da direção do Sest/Senat já foram presas no DF. Segundo a Polícia Civil, desvio foi de pelo menos R$ 20 milhões
BRASÍLIA — Uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), da Receita Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) desbaratou uma organização criminosa suspeita de atuar na direção do Sest/Senat (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizado do Transporte). Segundo a polícia, o desvio foi de pelo menos R$ 20 milhões somente em 2011 e 2012. A PCDF informou também que entre os envolvidos está o presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o ex-senador Clésio Andrade (PMDB). Havia um mandado de condução coercitiva contra ele, mas Clésio só se apresentou à tarde ao MP de Minas Gerais. Pela manhã foi realizado um mandado de busca e apreensão na casa dele, em Belo Horizonte. O Sest/Senat é ligado à CNT.
A operação, batizada São Cristóvão, levou a PCDF a cumprir nesta sexta-feira quatro mandados de prisão temporária, 24 de condução coercitiva, e 21 de busca e apreensão. Falta cumprir mais um mandado de prisão. Segundo a polícia, a quadrilha atuava há pelo menos sete anos. Pelas investigações, os dirigentes do Sest/Senat se apropriavam de recursos indevidos, que eram justificados por meio de gratificações. Além disso, parte dos desvios se deu por meio de prestadores de serviços de fachada, em geral parentes ou sócios dos dirigentes do Sest/Senat. São investigadas entre 25 e 30 pessoas.
O Sest/Senat é integrante do chamado Sistema S, que se mantém com recursos advindos de contribuições fiscais compulsórias das empresas.
Um dos delegados da investigação apontou Clésio como chefe do esquema.
- Essas pessoas estão num conluio permanente. Há uma clara divisão de tarefas e, ao que tudo indica, comandada por um ex-senador da República - disse Luís Fernando Costa de Araújo, delegado-chefe adjunto da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco) da Polícia Civil do DF.
Já o delegado-chefe da Deco, Fábio Santos de Souza, foi mais cauteloso.
- A suspeita da sua participação no esquema veio quando analisamos o documento que ele encaminhou à polícia para justificar o pagamento dessas gratificações que já eram duvidosas em relação a esses valores, pois grandes multinacionais talvez não paguem os valores das gratificações mensais que essas diretoras recebiam. Então ainda é prematuro dizer se ele recebeu dinheiro, o quanto recebeu - disse Fábio Santos de Souza.
Questionado se ele liderava o esquema, Fábio respondeu:
- Há uma suspeita, uma indicação, uma probabilidade de sua participação pelo cargo que ocupava. Mas isso é prematuro, nós precisamos ainda de mais elementos para chegar a essa conclusão.
A operação foi deflagrada sem indiciar ninguém. A apuração preliminar indicou que dirigentes e empregados do Sest/Senat se associaram numa organização criminosa para a práticas de crimes de peculato e lavagem de dinheiro. Foi detectada ainda a atuação de parentes e sócios dos funcionários do Sest/Senat no esquema.
Quatro mulheres da direção do Sest/Senat já foram presas: Maria Pantoja, que foi diretora-executiva entre 1993-2013 e hoje trabalha no Instituto de Transporte e Logística (ITL), também vinculado à CNT; Jardel Soares, diretora de contabilidade; Ilmara Chaves, coordenadora de administração; e Anamary Socha, assessora especial da diretoria executiva. Mesmo presas temporariamente, essas pessoas são presumidamente inocentes, ressalta o Ministério Público, até prova em contrário.
No material apreendido, estão 16 veículos, alguns deles de luxo, e dois cofres, um deles "entupido de dinheiro", na definição da Polícia Civil. O dinheiro dos cofres não foi contado. Em uma das casas dos prestadores de serviço de fachada foram apreendidos R$ 180 mil.
Uma das empresas usadas para lavar o dinheiro era um lava a jato em Brasília, que, suspeita-se, recebeu R$ 2,5 milhões. Um jardineiro também é suspeito de ter sido usado para o crime de lavagem.
A investigação começou na CGU, mas, segundo explicou o assessor do órgão, Israel Carvalho, houve dificuldade em conseguir informações do Sest/Senat. Assim, entraram em cena a Polícia Civil e o Ministério Público. Segundo o assessor da CGU, o orçamento do Sest/Senat é de R$ 1 bilhão.
- No sistema S como um todo, falta transparência. Eles não estão dentro do governo federal. Nós temos uma certa dificuldade de obter informação. Para verificar a folha de pagamento deles, eu tenho que pedir. Se não fornecem a folha, fica difícil fazer comparações - disse Israel.
- A CGU vem tentando desde o ano passado obter informações tanto relativas a esses pagamentos quantos a de contribuintes individuais. O que levou a Polícia Civil a deflagrar essa operação hoje é a suspeita de que os envolvidos vinham destruindo provas ou fabricando documentos que justificassem essas contratações, que até o momento julgamos que não existiram essas prestações de serviços - disse o delegado Fábio Santos de Souza.
Em abril, Clésio Andrade anunciou a desistência da pré-candidatura ao governo de Minas. Na época, o partido alegou que o político aceitou a decisão da legenda, que desejava se coligar ao PT, cujo candidato é Fernando Pimentel. Clésio é um dos réus do processo do Mensalão Tucano, esquema de desvio de recursos públicos para a campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) em 1998.
POR EVANDRO ÉBOLI E ANDRÉ DE SOUZA
19/09/2014 9:22 / ATUALIZADO 20/09/2014 16:22
Foto (crédito): Givaldo Barbosa / O GLOBO
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22 set 2014 - Site Jornal O GloboVoltar