NOTÍCIAS » AUTOESCOLA FEMININA PREGA 'OLHAR DIFERENCIADO' NA ORIENTAÇÃO

Com o objetivo de inserir cada vez mais mulheres no trânsito e reagir ao preconceito, foi implantada em Feira de Santana (distante a 109 km da capital) a autoescola Só Pra Elas. Criada em janeiro, a empresa já registra um índice de aprovação de 85% nos testes para retirar a carteira de habilitação. São hoje cerca de 300 alunas.

Em Feira de Santana, segundo dados do Detran, 183.377 pessoas são habilitadas. Entre elas 46.538 são mulheres. Isso representa um índice de 25,4% das habilitações na cidade. "Minha família tem experiência com autoescola, e em conversas em casa descobrimos quais eram as dificuldades das alunas. Muitas vezes, desistiam do curso em autoescolas mistas, com vergonha. Então surgiu a ideia de montar um local só para elas, com tudo feminino, principalmente as cores", disse Marília Heloíse Teixeira, diretora de ensino.

Ela disse que a escola segue as orientações do Detran, mas com olhar 'diferenciado', sintonizado com a realidade e o perfil femininos. "Observamos que o número de instrutoras aumentava a cada dia e muitas estavam fora do mercado, por preconceito. A autoescola nasce com este propósito também, de oferecer a oportunidade de trabalho a estas profissionais que muitas vezes eram desvalorizadas".

E ao chegar à autoescola a impressão que dá é que estamos entrando em um quarto de menina, que sonha com princesa. Tudo é cor-de-rosa, das paredes aos móveis, do fardamento, aos veículos. Com o slogan "Mulher no trânsito, prudência constante", a autoescola pretende quebrar tabus. "As estatísticas mostram que os acidentes e até registros de infrações são cometidos na maioria por homens. Dificilmente vemos mulheres cometendo certas imprudências", frisou Marília Heloíse.

Ciúmes
A funcionária pública aposentada Maria das Graças Cursino não podia tirar a habilitação porque o marido não deixava. "Ele dizia que não tinha necessidade e que não me queria sozinha em um carro com um homem. Hoje, consegui este local feminino para realizar o meu sonho. Pena que ele não está vivo para ver", lembrou.

Já Maricélia Cordeiro, agente de inspeção, conta que ao dizer para o marido que iria cursar autoescola ele cuidou de procurar uma onde as aulas fossem dadas por mulheres. "Ele chegou em casa já me dando o telefone daqui. Ele nega, mas acredito que foi ciúmes", apostou ela.

A teleoperadora Rose Araújo apreendeu a pilotar motocicleta sozinha porque o pai e o irmão se negaram a ensinar, alegando que não era 'coisa para mulher'. "Aí vem meu namorado que também não queria que fizesse autoescola. Procurei esta aqui pela comodidade e para evitar piadas que escutamos quase todos os dias", contou.

A instrutora Katiuscia Santos, há três anos no ramo, conta que os homens são mais imprudentes, embora mais rápidos para absorver o conteúdo. "Elas necessitam de uma atenção maior e mais detalhes. Mas quando as colocamos no trânsito vemos que são mais atenciosas e criteriosas, o que faz a diferença", destaca a instrutora.

Embora os órgãos de trânsito não tenham uma estatística específica para infrações classificadas por sexo, o superintendente municipal de trânsito, Francisco Brito Júnior, acredita que os homens são mais imprudentes e justifica a sua posição: "Eles são mais apressados em aprender a dirigir, pois significa independência. Já as mulheres não fazem disso o seu objetivo principal. Sem falar na paciência que, para o homem, é mais difícil", opinou.

Seg, 03/08/2015 às 23:07

Alean Rodrigues l Sucursal Feira de Santana

Foto (crédito: Luiz Tito l Ag. A TARDE

06 ago 2015 - A TardeVoltar