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ANEL RODOVIÁRIO
Campo minado
Anel Rodoviário de BH está repleto de armadilhas que podem ser desativadas
Paulo Henrique Lobato
Fotos: Sidney Lopes/EM/D.A Press
Um dos locais mais perigosos, o trecho próximo ao viaduto sobre a Avenida Ivaí, no Bairro Dom Bosco, exige cuidado de condutores. Retenção é marca registrada nos horários de pico

Inaugurado na década de 1960 para ser um rápido elo entre a BR-040 e a BR-381, o Anel Rodoviário de Belo Horizonte se transformou numa via urbana sem fôlego para receber o fluxo de veículos nos horários de pico e coleciona uma dramática estatística de desastres e mortes. O corredor de 26,2 quilômetros, no qual ainda há espaço para intervenções que melhoremo trânsito, esconde armadilhas que fizeram centenas de famílias chorar a perda de pessoas queridas. Só em 2008, 15 vidas foram ceifadas na via, que se tornou mais perigosa, desde outubro, quando seus 10 radares foram desligados. Mantido esse ritmo, o balanço de óbitos deve superar os 29 de 2007. As ocorrências registradas pela Polícia Rodoviária Militar Estadual (PRME) já revelam aumento de 18,5% no número de acidentes entre o primeiro trimestre deste ano (609 registros) e o mesmo intervalo de 2007 (514).

Desativação das lombadas eletrônicas, em outubro de 2007, ajudou a aumentar em quase 20% o número de acidentes. Trechos como a descida na altura do Bairro Buritis ficam mais perigosos. Dnit promete reativação até setembro.
Até quem conhece a via como a palma da mão teme ser a próxima vítima. “Como cidadão, evito passar por lá (quando há caminhos alternativos)”, diz o capitão Agnaldo Lima, da PMRE, um dos oficiais responsáveis pelo policiamento no trecho. Para levantar os pontos críticos e buscar sugestões para possíveis intervenções que garantam segurança e melhorem o fluxo de veículos, o Estado de Minas percorreu a malha na companhia do consultor Frederico Rodrigues, doutorando em engenharia de transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre na mesma área pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

O primeiro problema, no entanto, é observado por qualquer leigo: a desativação dos mecanismos de controle de velocidade. A última tragédia no Anel, na semana passada, ocorreu a menos de 200 metros da lombada eletrônica instalada na altura do Bairro Buritis, onde uma carreta em alta velocidade bateu em três caminhões e nove carros. Duas pessoas morreram. O Dnit informou que os equipamentos foram desligados em razão do “fim do contrato com a prestadora de serviço”, mas acrescentou que eles devem ser religados até setembro. O órgão ainda estuda a implantação de outros 20 aparelhos na via. Enquanto a promessa não sai do papel, o engenheiro listou situações que causam retenções e perigo, como a falta de corredor marginal e acostamento em boa parte da malha.

“A falta de vias marginais coloca a rodovia de alta velocidade em contato direto com o tráfego de acessos de vias locais de baixa velocidade. Elas servem para aceleração ou desaceleração na troca entre um trecho veloz e outro de menor velocidade, como as entradas para bairros”, explicou. Em razão da ausência da marginal em parte da malha, pontos de embarque e desembarque de ônibus foram implantados na pista principal. “É perigoso, pois é um local de conflito entre coletivos parando e veículos em alta velocidade, o que gera risco de acidentes e diminui a capacidade de fluxo.” Um desses pontos está na descida do Bairro Olhos DÁgua, no Barreiro, próximo à alça da BR-040, sentido BH/Rio, onde o engenheiro sugere uma mudança.

Os veículos que usam a alça não têm preferência para entrar no Anel. Segundo o especialista, “em razão das três faixas do Anel não serem totalmente usadas nesse trecho”, o acesso livre para a alça poderia ser implantado por meio dos chamados tachões (veja arte) na faixa direita da pista principal. “Isso pode melhorar o fluxo, mas a parada do ônibus teria que ser realocada, pois está muito perto da entrada da BR-040, que passaria a ser um acesso livre e com fluxo de maior velocidade.” Outra questão abordada é o estreitamento de pistas perto de viadutos. O consultor observa que esses trechos são sinalizados, porém, o capitão da PMRE Agnaldo Lima enfatiza que “são pontos críticos que concentram boa parte dos acidentes”.

“O afunilamento se deve à capacidade para a qual o Anel foi projetado: duas faixas. A terceira é de aceleração e desaceleração e de acumulação (de veículos) perto dos locais de restrição", diz Frederico. O fim da terceira faixa no pontilhão próximo ao Bairro Betânia exige atenção, pois logo depois há uma entrada à direita. O motorista que fizer a conversão terá que reduzir a velocidade ainda na pista de trânsito rápido.

FLUXO ESTRANGULADO Outro afunilamento que exige cuidado é o trecho de aceleração para quem sai da Avenida Antônio Carlos (sentido Centro/bairro). “Logo em frente, as três faixas são reduzidas para duas, o que coloca em risco os veículos que passam sobre o viaduto (sentido Vitória/Rio).”

AFUNILAMENTO DE PISTA


Redução de faixas nas proximidades de viadutos e dos pontilhões coloca em risco a vida de motoristas e passageiros.

ALÇA DA BR-040


A sugestão para reduzir os constantes congestionamentos na altura do Bairro Olhos D’Água é relativamente simples: tachões para direcionar o trânsito na pista principal. A medida evitaria a situação que hoje ocorre: a disputa de espaço com veículos que chegam pela via de ligação (acima, na foto)

Outra observação do especialista é o retorno no fim do corredor, no Bairro Goiânia, na Região Nordeste. Lá, falta sinalização e o raio de giro para que um veículo entre na pista contrária é pequeno. "Apesar de ter fluxo com tráfego menor, para fazer o retorno nesse local o motorista diminui significativamente a velocidade na faixa da esquerda, que é a de maior velocidade. Para fazer a curva, passa em praticamente todas as faixas do sentido contrário. É problemático e está errado", aponta Frederico.

23 jun 2008 - Estado de Minas Voltar