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EDITORIAL


Atenção ao trânsito


Cidades começam a perder vida e alma, quando se tornam escravas da tecnologia


A inauguração da primeira fase da duplicação da Avenida Antônio Carlos e a proibição de tráfego de caminhões de carga e carretas, até o fim de agosto, das 10h às 20h, no hipercentro da capital mineira, são medidas heróicas que a cidade reclama há quase 30 anos. Todas as propostas para desafogar o cada vez maior número de veículos automotores, que paralisa vias cruciais da cidade nas horas de pico (das 11h30 às 13h30 e das 15h30 às 19h, todos os dias), são medidas obrigatórias, mas não vão resolver o problema da cidade que caminha para o exorbitante número de 1 milhão de carros, antes do fim do ano. O que se deve questionar é: por que as sucessivas administrações nada fizeram para humanizar o tráfego em Belo Horizonte. Trânsito é matéria de interesse público e não pode ser tratada em termos absolutos, de preferência para os que usam vistosos e poluidores veículos. Em Buenos Aires (Argentina) e em Brasília, o serviço público de trânsito tem conseguido trabalhar em favor da vida humana. Suas administrações são obrigadas a tomar medidas rigorosas para disciplinar a circulação de automóveis. Em BH, a prefeitura, neste aspecto, tem fracassado redondamente nos últimos anos.


Quando se aprovou o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), houve hosanas chamando-o de legislação de Primeiro Mundo. Como, se de lá para cá aumentou assustadoramente o número de mortes e de inválidos vítimas do trânsito mais desorganizado do mundo? A missão fundamental do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), dos departamentos estaduais de Trânsito (Detrans) e dos órgãos administradores do trânsito nas capitais e grandes cidades brasileiras (caso da BHTrans, em B H) não é simplesmente arrecadar multas, mas, sim, defender a integridade das pessoas, nas ruas e nas rodovias, e agir com rigor para coibir a ação maléfica de motoristas irresponsáveis. Com cerca de 35 mil vítimas fatais nos acidentes de trânsito, pergunta-se às autoridades: quantas pessoas estão cumprindo pena por matar pedestres? O que estão fazendo para impedir que motoristas alcoolizados continuem dirigindo veículos pelas estradas e vias públicas? Será que os culpados serão sempre os magistrados e o sistema judicial sempre lento e moroso? De que vale o poder de polícia?



A cidade moderna, atropelada pela robótica das tecnologias, tornou-se fria e impiedosa, porque minorias poderosas só querem consumir e perseguir o prazer. Mas o automóvel não pode ser uma arma, ainda que ruas, avenidas e praças sejam cercadas para uso apenas de homens, mulheres, idosos e crianças, como era ainda nos anos 1930 e 1940. É bom pensar que as civilizações nunca se perderam nos sítios rurais, dominados pela natureza, nascentes cristalinas e montanhas verdejantes e sob a orquestra matinal e vespertina das aves. Não. As cidades começam a perder vida e alma quando se tornam escravas da tecnologia.


26 jun 2007 - Estado de MinasVoltar