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Um terço dos caminhões viaja com carga acima do permitido nas principais rodovias federais do estado
Ingrid Furtado
Arte: Valf/EM.Artes
Caminhoneiros que burlam a lei e carregam excesso de carga têm trânsito livre em Minas Gerais. Diariamente, 16 mil veículos, o equivalente a um terço dos que trafegam nos pontos mais movimentados das BRs 381 e 040, principais eixos rodoviários do estado, ultrapassam o limite autorizado pela legislação. O impacto é desastroso, combinado à falta de manutenção e de qualidade das obras rodoviárias. A 381 coleciona deformações e o título de rodovia da morte. Nos trechos mais danificados da 040 – entre Curvelo e Felixlândia (sentido Brasília); e Ouro Preto e Congonhas (rumo ao Rio de Janeiro) –, há cerca de 6 mil buracos. A situação só tende a piorar, pois 510 dos 773 quilômetros da estrada, administrados pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), estão sem contratos de manutenção. Somente em consertos, nos últimos quatro anos, o departamento gastou R$ 170 milhões em ambas as BRs, dinheiro que tem sido usado para reconstruir o que o próprio governo ajuda a estragar com a falta de balanças para fiscalizar o peso.

O Dnit é responsável por 10 mil quilômetros de rodovias em Minas e, dos dez equipamentos de pesagem distribuídos pela malha – média de um a cada mil quilômetros –, nenhum funciona. As duas estradas têm 1.535 quilômetros e, de ponta a ponta, 28% do asfalto estão comprometidos com excesso de depressões, pista irregular e falta de controle sobre os caminhões.

Durante uma semana, o Estado de Minas percorreu os trechos com maiores índices de reclamação e acidentes. A situação se agrava, devido ao intenso tráfego de veículos carregados de carvão, minério e bobinas de ferro, mercadorias mais pesadas que o convencional. São elas as mais comuns nas vias. Somente na 040, próximo a Sete Lagoas, passam 12 milhões de toneladas de minério por ano.

Um dos pontos de pesagem, às margens da BR-040, em Ribeirão das Neves, na Grande BH, virou pista de cooper para moradores da cidade. O matagal chegou ao teto do que sobrou do posto. Em 58 quilômetros entre Curvelo e Felixlândia, na Região Central, há 4.732 buracos, mais de 80 depressões por quilômetro, muitas com até 20 centímetros de profundidade. Para evitar acidentes e prejuízos, motoristas se arriscam na contramão da via e deixam que a sorte os guie.

Na rodovia, os ziguezagues dos veículos lembram os velhos carrinhos de bate-bate nos parques de diversão. Mas a violência e a morte estão perto de quem se atreve a passar pela estrada. O caminhoneiro Wagner Moura Pereira, de 22 anos, foi uma das vítimas. Na última terça-feira, ele viajava pelo trecho e, ao reduzir a marcha para passar em um buraco, foi abordado por criminosos. Ficou sem o caminhão e toda a carga de resíduos de cobre. “Eles me esfaquearam e me amarraram por oito horas num matagal, às margens da 040. Por causa de um buraco, quase morri”, afirma. E os flagrantes estão por toda a parte. Os acostamentos viraram pista e, o que seria a pista, se transformou num mar de crateras de diversos tamanhos. Quem andava a 60 km/hora, passou a trafegar a 20 km/hora.


RAIO X DO DESCASO

COMPOSIÇÃO




Esta é a constituição ideal de um asfalto de qualidade. As corretas proporções do material fazem com que a durabilidade e a segurança da via sejam reforçadas.

PONTOS CRÍTICOS


• BR-040 (sentido Distrito Federal) Trecho entre BH e Felixlândia.Carvão, grãos, minérios e enlatados

• BR-040 (sentido Rio de Janeiro) Trecho entre BH e Conselheiro Lafaiete. Cegonheiras e minérios

• BR-381 (sentido São Paulo) Cegonheiras, minério e combustível

• BR-381 (sentido Espírito Santo) Cegonheiras, minério e bobinas de aço

PRINCIPAIS PROBLEMAS



Rachaduras e buracos: Sem a devida compactação e o trabalho bem feito de drenagem, ocorre infiltrações de água. Com o excesso de peso, as trincas tornam-se buracos e aumenta a degradação da via.

Ondulações: As deformações ocorrem sobretudo por dois problemas: excesso de carga e tração dos veículos ou por falha estrutural de drenagem e compactação da pista.
19 mai 2008 - Estado de MinasVoltar