NOTÍCIAS » FERIADÃO COMEÇA COM TRAGÉDIA

Paulo Henrique Lobato, Pedro Ferreira e Eduardo Melgaço

Fotos: Luiz Antônio/Jornal Visão
Ainda há dúvida se o motorista do ônibus foi imprudente ou se dormiu ao volante no violento desastre perto de Luz

A violência nas estradas mineiras matou pelo menos 15 pessoas nas primeiras 24 horas do feriado prolongado de Corpus Christi, mas o número deve aumentar e ultrapassar o triste saldo de 23 vidas perdidas nas tragédias registradas pelas polícias Rodoviária Federal (PRF) e Militar Rodoviária Estadual (PMRE) no mesmo período de 2007. Isso porque as estatísticas mostram que o dia da volta para casa é o mais perigoso para os viajantes e a situação é agravada pelas péssimas condições de boa parte da malha viária federal no estado, conforme o Estado de Minas vem denunciando, e pela imprudência de motoristas, que pisam fundo no acelerador e fazem manobras arriscadas. O acidente mais grave deixou cinco mortos e 30 feridos, por volta das 7h de ontem, no km 509 da BR-262, no trecho conhecido como Curva do Barril, perto de Luz, na Região Centro-Oeste.

O ônibus da empresa Eucatur placa NCR 2824, que havia deixado Porto Velho (RO) no início da tarde de terça-feira, com destino a Colatina (ES), invadiu a contramão e bateu de frente com a carreta placa HRU 1294, de Aparecida de Goiânia (GO), carregada de biscoitos. Uma Pajero de Araxá, placa DDG 1217, que seguia atrás do caminhão, não conseguiu desviar e se envolveu no desastre. Morreram Agenor de Paulo Santos, de 48 anos, motorista da Pajero; Antônio Dilvane da Fonseca, de 38, que dirigia a carreta; José Aparecido Marques, de 42, motorista do ônibus; o motorista reserva José Barbosa, de 56; e o passageiro Célio Alves Ferreira, de 50.

O acidente deixou um rastro de sangue e houve pânico e gritaria. A lataria dos três veículos ficou retorcida. Equipes médicas e do Corpo de Bombeiros tiveram muito trabalho, pois muitos feridos ficaram presos às ferragens. Funcionários do Hospital Senhora Aparecida, de Luz, prepararam os leitos para socorrer as vítimas, mas três homens, uma mulher e uma criança precisaram ser levadas no helicóptero dos bombeiros ao Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, em Belo Horizonte. Testemunhas ficaram chocadas com a tragédia.

Bombeiros trabalharam muito, pois havia vítimas presas às ferragens

Policiais que atenderam a ocorrência disseram que havia neblina no momento da colisão, mas não sabem se o mau tempo foi a principal causa. Eles não descartam a possibilidade de o motorista do ônibus ter sido imprudente no asfalto, dormido ao volante ou de ter havido falha mecânica. O motivo só será revelado pelo laudo técnico, iniciado ontem pela Polícia Civil e que deve ser concluído em 30 dias. Pessoas que viram o desastre dizem que o saldo de cinco mortos só não foi maior por milagre. “O motorista do caminhão tentou desviá-lo do ônibus e não conseguiu. Foi atingido no acostamento”, lamentou o inspetor Aristides Júnior, da PRF.

PAVOR Os sobreviventes lembraram o momento de pavor e agradeceram a Deus por não terem aumentado a triste estatística, como o lavrador Oraciano de Jesus Alves, de 66, passageiro da última poltrona do ônibus. Ele entrou no coletivo na cidade de Ji-Paraná (RO), às 16h20, e pretendia chegar a Colatina por volta das 23h30 de hoje. Para passar o tempo, admirava as paisagens de Minas pela janela. “Ouvi o estrondo e tudo começou a ser destruído na minha frente. Pessoas gritavam por socorro. Eu não conseguia me levantar da poltrona. Fiquei muito machucado, pois fraturei o rosto ao batê-lo na cadeira da frente”, conta. Segundo ele, “o motorista dirigia normal, sem correria”.

O lavrador diz que pensou nos 10 filhos e nos 20 netos e temeu não sobreviver para vê-los novamente. “Havia famílias inteiras no ônibus, como um casal com três filhos pequenos. Também pessoas idosas. Todos ficaram procurando os parentes depois da tragédia. Senti um aperto forte no coração e achei que fosse a morte chegando. Ao ver a destruição do ônibus, acredito que foi milagre não ter morrido mais gente”, disse.

Outro que entrou em pânico foi o pecuarista Fernando Bretas, de 30, que havia saído de Pimenta Bueno (RO), às 19h de terça. Ele nada sofreu, mas a mulher ficou com um corte na cabeça. “A gente dormia na segunda fileira de poltronas do ônibus. Acordamos assustados. Não morreu mais gente por sorte. A carreta entrou na cabine e destruiu tudo. Só pensei em Deus. Nasci de novo”, agradece. Os veículos foram retirados da pista às 10h30, mas os policiais esperam que os ferros retorcidos e os cacos de vidros sirvam de alerta para que motoristas não continuem transformando as estradas num palco de sangue. “Infelizmente, o feriado começou muito violento”, alerta o inspetor Aristides.

A dona-de-casa Aurinice Martins, também passageira do ônibus, contou que estava dormindo no momento do acidente. “Acordei com todos gritando, querendo sair. Houve pânico e só vi o tamanho do acidente quando estava na rodovia.” No escritório da empresa Eucatur, que fica em Cascavel (PR), não havia ninguém ontem para falar sobre a tragédia. Um funcionário informou que os diretores estavam a caminho de Luz, para dar assistência às vítimas.
23 mai 2008 - Estado de MinasVoltar