A experiência de dirigir diariamente faz com que os motoristas desenvolvam um jeito próprio de atuar no trânsito ao longo do tempo. Essas peculiaridades, sobretudo quando se tem muito tempo de carteira de habilitação, convertem-se em vícios de direção que podem, segundo especialistas, dificultar a mobilidade urbana e, inclusive, provocar acidentes. Para verificar essas manias e se os condutores já habilitados dirigem da forma correta pelas ruas da cidade, a reportagem do CORREIO de Uberlândia testou e acompanhou outros três motoristas com mais de cinco anos de habilitação, que foram submetidos a uma simulação do exame de rua aplicado, atualmente, para a obtenção da primeira Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Nenhum deles foi aprovado.

A prova foi aplicada pelo instrutor e proprietário de uma autoescola Marlon Eduardo de Lima, já que examinadores do Departamento de Trânsito (Detran) não puderam ser disponibilizados para a simulação. Entre os condutores, dois homens – incluindo um motorista profissional – e duas mulheres com tempos diferentes de experiência no trânsito. “Os erros mais comuns foram deixar de olhar para os retrovisores com a frequência necessária e não observar regras de ultrapassagem ou mudança de direção. A maioria invadiu a pista contrária ou desviaram de algum veículo ou pedestre sem sinalizar adequadamente”, afirmou Lima.

O exame de direção na cidade tem novas regras. O candidato apenas realiza o teste de baliza se não cometer nenhuma infração eliminatória durante o trajeto, como não obedecer a parada obrigatória. Durante a simulação feita a pedido do CORREIO de Uberlândia, os quatro motoristas já habilitados reprovaram ainda na primeira fase do exame.

Segundo Lima, a reprovação de todos desses condutores pode estar relacionada à comodidade que o motorista adquire depois da habilitação. “Ele deixa algumas regras de lado e começa a ter autoconfiança pelo tempo de experiência. Às vezes, não checa tanto e faz manobras mais arriscadas. Isso pode provocar acidentes”, disse.
Para a psicóloga Áurea Oliveira, a reprovação pode estar relacionada a diversos fatores e não quer dizer, necessariamente, que os condutores não sabem dirigir. “Além dos vícios adquiridos ao longo do tempo, as pessoas podem estar sob estado de tensão pelo simples fato de saber que estão sendo avaliadas. Há também a possibilidade de mudanças nas regras que estavam vigentes quando o candidato aprendeu a dirigir. São várias circunstâncias”, afirmou Áurea Oliveira.

Falhas de direção passaram desapercebidas pelas motoristas

Dar ré contínua sem virar-se para trás; dirigir com uma mão no volante e a outra apoiada no câmbio; desobediência de uma parada obrigatória; e conversão incorreta. Esses foram os erros durante a simulação da estudante Daniela Caixeta, de 27 anos, habilitada há 9 anos. Ela, que se habilitou em Brasília (DF) na primeira tentativa do exame, disse que algumas regras são diferentes. “Não sei se é por causa da cidade onde tirei carteira ou se as regras mudaram nesses anos. Mas, lá, nós tínhamos que dar ré só olhando nos retrovisores, não podia olhar para trás, e me habituei a fazer assim. Acho que a conversão não foi incorreta, apenas diferente do que exigem aqui. Nas paradas, achei que tinha parado completamente. Já a mão no câmbio realmente é um vício que desenvolvi sem perceber”, afirmou.

A reportagem do CORREIO de Uberlândia também realizou o teste. A repórter Cindhi Belafonte, tem 7 anos de habilitação e errou na inobservância dos retrovisores ao fazer manobras; invasão da contramão de direção; desobediência de uma parada obrigatória e conversão incorreta. “A invasão foi para desviar de um ciclista, foi um reflexo, mas chequei os retrovisores. Checo sempre, mas sem movimentar muito a cabeça. Com relação à parada obrigatória, o avanço ocorreu por causa da estrutura da via, para ter visibilidade.”

24 de abril de 2016    16:30

por Cindhi Belafonte

Foto (crédito): Celso Ribeiro e Cleiton Borges