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TRÂNSITO
Pacotão do povo
Depois de conhecer o projeto viário da prefeitura, motoristas de BH acostumados a dirigir pelos grandes corredores apresentam propostas para tirar a cidade do sufoco
Fábio Fabrini
Thiago Herdy
Jackson Romanelli/EM/D.A Press
A Rua da Bahia, em horário de pico, é uma das vias que exigem solução, segundo o motorista de ônibus Éder Alex

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) lançou seu programa para melhorar o trânsito e o transporte coletivo numa cidade que, no ano passado, extrapolou a marca de 1 milhão de veículos e anda cada vez mais devagar. Traçado nas pranchetas de técnicos das regionais e da BHTrans, a cinco meses das eleições, o Programa de Ações de Mobilidade 2008 mistura recapeamento de vias e criação de faixas exclusivas para ônibus à construção de rotatórias nos cruzamentos e à pintura de faixas nas vias. Mas, para quem passa o dia ao volante na cidade, faltou muita coisa no projeto. O Estado de Minas ouviu motoristas de táxi, de ônibus, de caminhões, motoboys e ciclistas, que ficam até 12 horas diárias no arranca-e-pára do Centro e dos grandes corredores. Eles mesmos apresentam seus planos de urgência para uma BH mais segura, humana e organizada nas pistas. É o pacotão do Dorival, do Geraldo, do Aroldo e de muitos outros (veja arte na página 24).

Quando está preso em um engarrafamento no túnel que liga a Avenida Cristiano Machado ao Centro, o taxista Wender Adriano Nunes, de 36 anos, vive seu momento de maior estresse. “Só eu e aquela fumaça preta dentro do túnel. Você não tem para onde ir. Mas o que posso fazer? É meu trabalho. Se ficar nervoso, bato o carro e xingo os clientes. Aí eu me ferro de verdade”, brinca. Ele morou em São Paulo e vê com bons olhos a adoção, em BH, de um sistema de terminais de ônibus para ligar os bairros ao Centro, como ocorre na capital paulista. Um morador do Bairro Caiçara, na Região Noroeste, tomaria um ônibus até o terminal e, de lá, pegaria linhas circulares ou táxi-lotação para chegar ao trabalho. “Seria uma forma de valorizar o transporte público e tiraria o excesso de coletivos da região central”, explica.

Para Wender, um sistema mais eficiente para o Centro atrairia passageiros, aumentando a demanda pelos ônibus. A idéia casa bem com pesquisa publicada na edição do dia 12 do EM, do consultor Frederico Rodrigues, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostrando que, se o uso de coletivos aumentasse em um terço – mais 420 mil passageiros por dia –, os congestionamentos cairiam à metade, a espera nos sinais de trânsito despencaria 56%, a emissão de monóxido de carbono (CO) cairia 32% e o consumo de combustíveis seria 23% menor. E a velocidade média nas vias dobraria.

Há 31 anos no “lombo” de um ônibus urbano, o motorista Pedro Arcanjo Mendes, de 52, não consegue imaginar uma cidade com os números da pesquisa do consultor da UFRJ. No entanto, sugere duas prioridades para o Plano de Mobilidade. A maior parte do trajeto que percorre diariamente é feito pela Avenida Amazonas, que sempre pára em dois pontos. “Os cruzamentos com a Francisco Sá e a Contorno são um inferno. O tempo do sinal é pequeno e forma-se uma fila enorme. A solução é construir trincheira ou viaduto”, recomenda, reconhecendo, no entanto, que é preciso diversificar os meios de transporte. No Barreiro, vivem mais de 262 mil pessoas. E, para ele, ônibus não basta para levar tanta gente ao trabalho. “A linha 2 do metrô (Barreiro-Santa Tereza, passando pelo Centro) deveria ser prioridade, e não aquela que vai da Savassi à Pampulha, só por causa da Copa do Mundo. Muito mais gente seria beneficiada”, afirma.

NOVO ANEL Tirar da gaveta o projeto de um novo Anel Rodoviário é uma idéia citada por motoristas de ônibus e taxistas. Para Éder Alex Rodrigues, de 27, que há três meses assumiu o volante de um coletivo da linha 4113 (Bom Jesus-Belvedere), só a execução do projeto seria capaz de tirar tráfego da área central. “As pessoas não têm opção para ir de uma região da cidade a outra sem passar pelo Centro. E o nosso Anel é uma ligação feita pela metade, que só vai do Sul à Pampulha”, justifica. O taxista Dorival Claret de Souza, que já passou quase dois terços dos 48 anos de sua vida no trânsito, sugere melhorias no Anel, enquanto o novo não chega. Ele acredita que o motorista precisa voltar a confiar na via como uma alternativa segura. Para isso, bastaria um projeto de revitalização.

Para quem continua refém da área mais movimentada da cidade, a vida é um inferno: “É pedestre xingando, carro costurando e embicando na frente do ônibus o dia todo. Tem hora que dá vontade de abrir a porta e fugir”, conta o motorista de ônibus Éder Alex. Dados do Programa de Estruturação Viária de Belo Horizonte (Viurbs) mostram que, nos 10 corredores mais lentos da cidade, a velocidade média chega a 17 km/h nos horários de pico. Em alguns trechos, como na Rua da Bahia, entre a Praça da Estação e a Avenida Afonso Pena, os veículos viajam a 9 km/h. Muito menos que um cavalo de raça, cujo galope varia de 35 a 40 km/h. Os carros não chegam à metade disso na Avenida Uruguai. Já para o bike boy Marcos de Souza, de 27, a solução passa pelo uso da bicicleta.
21 mai 2008 - Estado de MinasVoltar