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Viaduto e trincheira param na burocracia
Morosidade do poder público atrasa inauguração do elevado que vai substituir o perigoso Vila Rica, no km 487 da BR-040, e conclusão do acesso a Santa Luzia, na 381
Paulo Henrique Lobato
Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
A obra, proposta para eliminar o risco no trecho, está quase no fim, mas ainda não construíram o acesso de pouco mais de dois quilômetros

O sonhado viaduto que vai substituir o perigoso Vila Rica, mais conhecido como Viaduto das Almas, palco de centenas de mortes, no km 487 da BR 040, ficará pronto até o fim do ano, mas a variante para acessá-lo ainda não começou a ser construída e só deve ser concluída em abril de 2009. O risco para motoristas e passageiros no velho pontilhão, inaugurado em 1957, na área rural de Itabirito, será maior a partir dos próximos dias, quando começa o período de férias. O fluxo de veículos na rodovia, caminho para o litoral do Rio de Janeiro e cidades históricas de Minas, vai aumentar muito. A nova ponte já deveria ter sido inaugurada, mas o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) adiou a data duas vezes.

A primeira, em agosto, não foi cumprida por causa das chuvas do fim de 2006, que atrasaram o cronograma de obras. A segunda, prevista para novembro, foi revista para abril de 2009, como já havia informado o Estado de Minas. O motivo é uma erosão, no sentido Rio/BH, no km 580 da BR-040. Em outubro, o Dnit enviou à sua Diretoria de Planejamento, em Brasília, pedido para alterar o projeto inicial do viaduto: a proposta é a de que no novo trecho de asfalto seja eliminado um perigoso defeito causado pela chuva. Mas a resposta ainda não veio.

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Não será nestas férias que o motorista vai ficar livre do Viaduto das Almas, condenado por seu traçado e pelos graves acidentes

O Dnit assegura que a mudança no projeto não atrasará novo cronograma. Mas, como já adiou duas vezes a inauguração do viaduto, considerado um dos principais canteiros de obras em andamento no estado, teme-se outra dilatação do prazo. Enquanto o velho Vila Rica não é aposentado, motoristas e passageiros continuarão enfrentando o risco de acidentes. Uma das grandes preocupações é com as carretas, que trafegam abarrotadas, principalmente de minério, e em alta velocidade.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) não tem a estatística de vidas perdidas no viaduto desde 1957. Já a União Brasileira dos Caminhoneiros estima que sejam pelo menos 200 mortes. E, para piorar, as lombadas eletrônicas instaladas nas entradas da ponte, o que garantia um pouco de segurança, estão desligadas e não há prazo para que voltem a funcionar. Sem elas e com o abuso de velocidade por quem não respeita o traçado em curva do viaduto, a viagem é mais arriscada.

Marcos Michelin/EM/D.A Press
Abertura de passagem sob a rodovia federal, na Grande BH, para acabar com uma arriscada conversão, anda devagar demais

O EM foi ao Vila Rica e constatou outros problemas, como a mureta de proteção quebrada. A infra-estrutura sob a ponte tem infiltração e lodo. Por cima, trincas na camada de asfalto. Os problemas mostram que não há manutenção adequada para o tamanho do perigo: 262 metros de comprimento e apenas nove de largura. O novo viaduto terá 460 metros de extensão, 60 de altura e 21 de largura. As dimensões maiores podem salvar milhares de vidas, mas falta a abertura da variante, que, pela proposta original, terá 2,2 quilômetros.

“Conheço o Vila Rica há 30 anos. Perdi muitos amigos ali e tenho medo. O movimento de carretas é intenso”, diz o caminhoneiro Edgar Franzen de Lima, de 58 anos, que mora em Itabirito, na Região Central, e, de segunda a sexta-feira, passa pelo Viaduto das Almas, pois transporta pneus até Ouro Branco. O motorista de ambulância Guilherme Rodrigues, de 33, respeita o perigo. “Tenho muito receio, pois ele é estreito e em curva. Há 10 dias havia uma panela (buraco grande) no início da pista. As lombadas desligadas também preocupam”, diz ele, morador de Lagoa Dourada, acrescentando que fica impressionado com a mureta quebrada.

Guilherme já ouviu vários relatos de tragédias no viaduto e, prudente, o atravessa com cuidado. Do alto, fica assustado quando vê, em baixo, o fino filete de água do Córrego das Almas, afluente do Rio das Velhas e, oficialmente, batizado de Monjolos. O apelido do córrego deu o primeiro nome ao viaduto. Em 1970, depois de muitas mortes, rebatizado para Vila Rica em homenagem a Ouro Preto. Mas, para milhares de viajantes, continua com o nome antigo. Para outros, não.

LENTIDÃO Moradores de Santa Luzia, na Grande BH, cobram o término da construção da trincheira de acesso à cidade, na BR-381. A obra foi iniciada no primeiro semestre de 2006, com ampla propaganda, e morosidade do trabalho, prejudicado pela burocracia do poder público, causa constantes congestionamentos, principalmente nos fins de semana e feriados prolongados, quando aumenta o fluxo de veículos.

Motoristas contam que bandidos aproveitam a lentidão do tráfego para assaltá-los. A obra é executada pelo 1º Batalhão de Engenharia de Construção do Exército, com sede em Araguari, no Triângulo Mineiro, e deveria ser concluída no fim do ano passado. O tenente Helisson, engenheiro responsável, disse que não pode comentar o atraso, pois depende de autorização do coronel Rissi, que assumiu o comando do pelotão sexta-feira e não foi localizado.
01 dez 2008 - Estado de MinasVoltar